Antes de continuar lendo este texto, vá até a sua prateleira de jogos e conte quantos títulos voltados para o público adulto existem lá. Caso você esteja próximo da idade média dos jogadores mundo afora (algo acima dos 30 anos de idade), é bem possível que exista uma boa quantidade de títulos abarrotados de sexo ou violência. A resposta fácil seria: títulos com conteúdos potencialmente imorais vendem melhor, em razão do apelo óbvio. Mas não parece ser exatamente esse o caso.
De fato, é necessário reconhecer que a indústria de games nunca vendeu tanto conteúdo adulto quanto atualmente. Conclusões subjetivas à parte, é exatamente isso que mostram os dados do ESRB (órgão de classificação etária) relativos aos títulos avaliados e lançados durante 2010. Confira o gráfico abaixo:
“Como assim, apenas 5% são títulos adultos?” Sim, mas um rápido cruzamento de dados pode revelar uma tendência interessante. Embora representem uma fatia relativamente pequena da pizza do ESRB, fato é que uma parte substancial das vendas em 2010 foi composta por títulos capazes de deixar os mais sensíveis corados ou enojados. Basta conferir a lista dos dez jogos mais vendidos em 2010 (abaixo) para perceber que cinco posições são ocupadas por jogos maduros.
Call of Duty: Black Ops
Madden NFL 11
Halo: Reach
New Super Mario Bros. Wii
Red Dead Redemption
Wii Fit Plus
Just Dance 2
Call of Duty: Modern Warfare 2
Assassins Creed: Brotherhood
NBA 2K11
De fato, vale ainda o mesmo raciocínio quando se contabilizam os jogos que venderam mais de um milhão de cópias no referido ano. “42 jogos venderam mais de um milhão de cópias em 2010, e desses, 27 eram E ou E10+; três eram Teen e 12 eram Mature [para públicos maduros”, afirmou a analista do NPD Anita Frazer ao site Arstechinca. De fato, mesmo representando apenas 5% do total de jogos avaliados pelo ESRB, é óbvio que, relativamente, jogos maduros tem mostrado um desempenho comercial superior... Mas o que poderia justificar essa “anomalia”?
Violência e sexo... Ou qualidade?
Jogos bons vendem mais
Em 2009, algumas varejista no Reino Unido deixaram parte da população estarrecida. Eis o motivo: as lojas venderam jogos indicados aos públicos adultos para um sujeito de 14 anos que trabalhava disfarçado, justamente para levantar quantos comerciantes realmente levavam a classificação etária a sério. Por fim, de todas as lojas visitadas pelo adolescente, apenas quatro se negaram a vender o conteúdo moralmente ofensivo.
Ok, não se trata aqui de fazer apologia à venda de jogos adultos a adolescentes ou pré-adolescentes. Mas existe algo que é fato: essas pessoas normalmente dão um jeito de conquistar seu Call of Duty ou seu Grand Theft Auto. Seria simplesmente para garantir uma boa dose de violência e sexo semiexplícito? Não parece ser o caso
Vídeo Aki
Senão, volte rapidamente à lista dos títulos mais vendidos em 2010 (início deste texto). Sim, trata-se de títulos que se destacam entre uma imensa maioria de jogos recomendados para quase todas as idades, e certamente são jogos que contém algo de moralmente questionável.
Entretanto, além disso, coincidentemente, muita gente teria dificuldades para apresentar grandes defeitos em jogos como CoD: Black Ops e Assassin’s Creed: Brotherhood. O motivo para isso parece ser bastante simples. “O que essas boas vendas e essa avaliação nos diz? Coisas que nós já deveríamos saber: a histeria em torno da ideia de os video games destruírem a fibra moral da juventude americana é obviamente exagerada, e ninguém vai a uma loja pensando ‘eu vou comprar um jogo Mature hoje’!”, destacou um artigo do site Techland.
O redator continua: “assim como nos filmes, nos livros e na música, as pessoas tomam decisões de compra com base em conteúdo e qualidade.” Em outras palavras, é possível imaginar que jogos como Halo: Reach e Red Dead Redemption vendam simplesmente... Por que são bons.
Diversão casual = profundidade casual?
Três vivas à liberdade para explorar temas!
(Fonte da imagem: Divulgação/Rockstar Games)Concluir que qualquer jogo dito hardcore apoia-se em um universo imoral para construir uma experiência de jogo válida seria, é claro, apressado. De fato, não é difícil encontrar abordagens profundas e interessantes que trabalhem dentro de um limite moral razoável — basta se lembrar de Super Mario Galaxy ou mesmo da franquia Final Fantasy.
Entretanto, parece difícil negar que a liberdade no tratamento de temas supostamente “imorais” ou “adultos” concede aos desenvolvedores certo espaço de manobra, permitindo a composição de cenários mais ricos e variados. GTA, por exemplo. O blockbuster maior da Rockstar vendeu horrores ao longo da sua história porque permitia que o jogador saísse com prostitutas virtuais e espalhasse sangue pelas ruas infringindo leis de trânsito? Talvez.
Entretanto, quem negaria que as possibilidades de toda uma cidade livre à exploração e cheia de histórias possíveis ajudou a compor o apelo das histórias de Tommy Vercetti e Cia. — além de dar origem a um novo gênero de jogos, o sandbox? Ou será que você só deixou de pular sobre plataformas e atirar em monstrinhos voadores durante algum tempo porque vislumbrou a possibilidade de sair atirando em um carro de polícia enquanto atropelava pedestres indefesos?
Vídeo Aki
Enfim, ao que parece, os aficcionados por games não buscam doses cada vez maiores de violência e imoralidade, mas sim qualidade e uma experiência tão profunda quanto duradoura — algo que normalmente não recebe muita atenção de um público mais voltado para doses de diversão ocasional e descomprometida.
Do contrário, provavelmente seria algo como reduzir as tiradas engraçadas e a trama bem urdida de algo como Red Dead Redemption à simples necessidade de descarregar um tambor de revólver em outro ser humano. Não... Esse definitivamente não parece ser o caso.
By:Baixaki
Gosto??Da REP